2017-11-09
Dados da FAO, mostram que o Brasil está em uma posição mediana sobre perdas e desperdício na América Latina, apesar de apresentar boas práticas, como as centrais de abastecimento e bancos de alimentos, que fortalecem e integram a atuação das unidades de segurança alimentar e nutricional. Para o conselheiro da UE no Brasil, Rui Ludovino, é importante assegurar às pessoas o acesso a uma oferta de alimentos saudáveis e seguros – sendo este um dos desafios mais críticos. “Nesse contexto, não há espaço para desperdício de alimentos. O tema é global e transversal e tem impactos econômicos, sociais e ambientais. Para termos sucesso, é preciso o envolvimento de todos e ação internacional, nacional e local, assim como autoridades públicas”, esclareceu.
Também reforçou que a UE tem o compromisso de reduzir para metade os resíduos alimentares per capita até 2030, uma meta estabelecida na nova agenda global dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Ludovino explicou o que são os Diálogos Setoriais e destacou a criação da plataforma da UE para as Perdas e Desperdícios Alimentares (Food Loss and Waste Accounting and Reporting Standard - FLW). O objetivo é combater o desperdício alimentar desde as explorações até ao consumidor.
Segundo o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, o grande problema que o Brasil tem pela frente é que o país ainda tem entre 10% e 30% de alimentos desperdiçados desde a colheita até o consumidor, chegando a 40% em alguns casos. “É ao longo da cadeia que acontecem distintas porcentagens [de desperdícios]”, disse Bojanic. Ele também falou que experiências internacionais bem-sucedidas podem ser adotadas no Brasil para que haja redução substantiva dessas perdas. “Porque não é só uma questão ética, mas também tem uma dimensão ambiental muito forte, como as emissões de gases de efeito estufa dos alimentos desperdiçados. Tem uma questão financeira, econômica, social”, relatou.
Segundo a diretora da ABRE - Associação Brasileira de Embalagem, Luciana Pellegrino, representante de 200 empresas de toda a cadeia produtiva de embalagens, aplicando-se mais tecnologia e educando o consumidor é possível contribuir com a diminuição do desperdício no setor. “Ofertar porções individuais, embalagens que ampliam o tempo de vida dos produtos ajudam o consumidor a consumir tudo o que compra”, destacou. Na ocasião, Luciana também sublinhou a importância do engajamento do setor em iniciativas como a “Save Food” - iniciativa que busca formar uma rede de atores atuantes no combate a perdas e desperdícios de alimentos (PDA) - e elogiou a iniciativa dos Diálogos Setoriais (União Europeia – Brasil) e da Embrapa no que diz respeito à redução das perdas alimentares.
“O varejo tem o papel de comunicar-se tanto com o produtor rural quanto com o consumidor urbano. Somos um elo importante no combate ao desperdício e a convenção da Abras, em 2018, pode abrir espaço para os parceiros envolvidos no tema de redução do desperdício”, ressaltou Marcio Milan, superintendente da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS).
Combate ao desperdício - A preocupação do mundo com o desperdício de alimentos ainda é muito recente. Na Espanha, a estratégia “Mais Alimento, Menos Desperdício” começou em 2013. Os bancos de alimentos espanhóis ajudam no melhor aproveitamento dos alimentos, porque aprimoram os processos de captação e distribuição para reduzir perdas. Na França, a população pretende reduzir pela metade o desperdício até 2025, conforme estabelece o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Naquele país, a lojas de varejo acima de 400m2 são proibidas de destruir alimentos. A plataforma da Comunidade Europeia sobre desperdício foi criada em 2016.
O Brasil possui a Rede Brasileira de Bancos de Alimentos e contabiliza 228 bancos de alimentos (107 públicos e 111 privados). “Nossa preocupação não é apenas com o combate à fome, também promovemos a alimentação saudável”, revelou Kathleen Machado, coordenadora-geral de Equipamentos Públicos do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA).
Segundo Boianic, os principais ofensores da perda e desperdício de alimentos são a armazenagem e transporte inadequados e os maus hábitos dos consumidores. Entre os “maus hábitos” de quem compra alimentos está a rejeição aos alimentos com aparência incomum. É nesse sentido que a FAO tem incentivado o consumo de frutas ou hortaliças amassadas/prejudicadas.
Boianic falou que foi observada a necessidade de aprimoramento da regulamentação das perdas ao longo da cadeia produtiva, desde a produção até o consumo, e da aprovação de projetos de lei para orientar políticas públicas que venham a ser feitas. Disse que o problema é tão grande que serão precisos maiores esforços e investimentos para diminuir as perdas que acontecem nas estradas. “O problema não é fácil. É uma combinação de mudança de atitudes com grandes investimentos, em alguns casos. Em outros casos, são investimentos menores, mas têm que ser feitos”. Para isso, segundo ele, é preciso uma boa legislação que incentive o crédito, a adoção de novas tecnologias e a mudança de hábitos, além de articular os interesses do setor privado da indústria de alimentos, da distribuição e dos supermercados com os interesses dos consumidores e da sociedade em termos gerais. Na avaliação de Bojanic, a articulação de atores é um tema central nessa empreitada.
Diálogos Setoriais - O seminário fez parte do projeto aprovado pela Iniciativa de Apoio aos Diálogos Setoriais, parceria estratégica entre UE e Brasil para favorecer o intercâmbio de conhecimentos, experiências e melhores práticas sobre temas de interesse mútuo, e foi enquadrado na categoria Top-Down por se tratar de área prioritária e de diálogo político de alto nível entre os governos envolvidos. O projeto é coordenado pela Embrapa em parceria com a WWF Brasil.
23/10/2020
Estudo aborda desafios regulatórios e de governança para descarbonizar e digitalizar o setor de energia
16/10/2020
Comunicado à imprensa conjunto – 8º Diálogo Político de Alto Nível União Europeia-Brasil sobre a Dimensão Ambiental do Desenvolvimento Sustentável, em 16 de outubro de 2020
03/08/2020
Webinário destaca importância da proteção de dados na pandemia de COVID-19
22/05/2020
União Europeia e Brasil decidem cooperar em projetos de combate à COVID-19
Financiada pela UE. © Diálogos